
O fim do ano chega e, com ele, um movimento intenso na cena musical do Distrito Federal. De brega-trap emocionado a rap espiritualizado, passando por experimentações bilíngues e cantos afrolatinos, quatro artistas apresentam trabalhos que ajudam a mapear a pluralidade criativa do DF: Tiocafona, Prince Belofá, Mano Dáblio e Petrus Cuesta em parceria com Laady B.
Num período em que a música independente se fortalece pela narrativa, pela estética e pela capacidade de criar comunidade, esses lançamentos mostram que cada artista encontrou uma forma própria de ocupar o mundo e de provocar quem o escuta. Confira:
Tiocafona – “Emocionadão”: o brega-trap dos apaixonados sem vergonha
Tiocafona chega com um EP que entende o amor como espetáculo e assume isso com alegria. “Emocionadão” mistura forró, brega, arrocha, trap e pagodão, abraçando uma estética cafona com convicção poética e humor afiado.
O artista do Guará constrói uma narrativa sobre o “emocionado clássico”: aquele que transforma um match em promessa eterna, que vive intensamente, que se entrega rápido demais, que erra, volta, sofre e dança no processo.
As seis faixas, que contam com nomes como Ally Akin, Prethais, Aaron Maniva e Wandalo, mapeiam essa montanha-russa afetiva com letras cheias de identificação e um cuidado visual que reforça o conceito.
Produzido no Black Monster Studio, o projeto reúne colaboradores de diferentes regiões, ampliando a sensação de mistura e pertencimento. Com estética assinada pelo Abelhando Lab, Tiocafona reafirma: ser cafona é estilo de vida e também estética musical.
Prince Belofá – “Neguinho”: fé, palavra e identidade no centro do rap
Prince Belofá estreia com um álbum que carrega coragem, espiritualidade e firmeza estética. “Neguinho” é uma obra que transita entre rap, trap, grooves afrodiaspóricos e pontos que reverenciam ancestralidade.
Com 12 faixas, o disco é uma travessia entre periferia, sagrado, crítica, esperança, ferida e cura. Prince coloca a vivência preta do DF no centro, com lirismo e contundência, costurando influências de Racionais MC’s, Djonga, samba, poesia e religião de matriz africana.
O título é escolha consciente, provocativa e cheia de camadas, uma disputa de significados que o álbum abraça.
Produzido por Noze, Piá The Kid, ZucaBeatz e Rubão, “Neguinho” é um trabalho coeso, denso e afetivo, que apresenta Prince como um artista que entende o rap não só como ritmo e poesia, mas como linguagem de mundo.
Mano Dáblio – “Cypher VI – Imaterial”: quando o rap encontra a Libras e expande a cena
Mano Dáblio segue aprofundando um projeto que já virou referência em acessibilidade estética dentro do rap brasileiro. Em “Cypher VI – Imaterial”, o artista une poesia marginal, beats e a presença potente de performers-tradutores surdos, criando um videoclipe bilíngue que transforma Libras em linguagem poética e visual.
Gravado no Guará e em Taguatinga, o trabalho reúne poetas e rappers, Fernanda Morgani, Rakel Reis, Estelar e Mihh Black, cada uma trazendo sua voz e vivência para um mosaico de resistência, afeto e pertencimento periférico.
As performances em Libras não aparecem como complemento, mas como parte orgânica da narrativa, ampliando o campo sensível de quem vê e ouve.
O resultado é um clipe que reafirma Mano Dáblio como um criador de novos formatos, comprometido com acessibilidade, inclusão e a expansão do rap para territórios que ele raramente ocupa.
Petrus Cuesta feat. Laady B – “Canto para Oxum e Oxumaré”: axé, ancestralidade e afeto em forma de canção
Entre os lançamentos, Petrus Cuesta surge com uma proposta diferente: um canto dedicado a Oxum e Oxumaré que une música, espiritualidade e força simbólica. Ao lado de Laady B, o artista apresenta uma faixa que respira axé, beleza e movimento, guiada por elementos afrolatinos, percussões quentes e uma interpretação marcada por entrega emocional.
A música, disponível em todas as plataformas, traz guitarras, flauta transversal, trompete, baixo e uma percussão rica que cria um ambiente ritualístico. A produção, assinada pelo Orbis Estúdio, constrói uma ambiência luminosa, onde cada instrumento parece carregar um gesto de devoção.
O clipe dirigido, captado e editado por Lopes Lima amplia essa atmosfera, com visual simbólico, cores densas e uma narrativa imagética que conversa com o sagrado sem perder a contemporaneidade.
É um lançamento que não busca enfeitar espiritualidade, mas vivê-la: um convite para semear, compartilhar e permitir que o canto encontre quem precisa dele.
E para quem deseja sentir de perto essa onda criativa que vem varrendo o DF, aqui vai o convite: siga os artistas, fortaleça a cena, compartilhe os sons que te atravessarem.
Siga e acompanhe:
Todos os lançamentos citados já estão disponíveis nas principais plataformas digitais e também reunidos com carinho na nossa playlist de descobertas fresquinhas: